sábado, 4 de abril de 2009

Concepção Naturalista- Filosofia da educação

Área Educacional

CONCEPÇÃO NATURALISTA


A partir da Idade Moderna (século XVII ), surge a filosofia de Descartes e Locke, bem como o desenvolvimento do método científico com Galileu e Newton, em busca do verdadeiro conhecimento, que até hoje orienta nossa forma de pensar.
Nesse novo momento, a ciência surge como uma forma de conhecer, observando as regularidades da natureza, levando à formulação de leis, à previsibilidade dos fenômenos, possibilitando o desenvolvimento da tecnologia. Ilustra esta época a célebre frase de Francis Bacon: saber é poder.
O rigor desta nova época influenciou também a busca da compreensão a respeito do homem, que agora terá a preocupação de encontrar as regularidades que marcam o seu comportamento. Uma nova visão antropológica se forma, de acordo com a qual o homem se faz parte da natureza física, submetendo-se às mesmas leis que presidem a vida orgânica e a matéria. Ele é apenas um ser vivo como os demais. Além disso, a natureza esgota o real, não havendo por que recorrer a entidades transcendentais para explicá-la. É a concepção naturalista do homem.
Na filosofia de Descartes, como vimos no ano passado, o homem é compreendido a partir do dualismo psicofísico, ou seja, constituído de duas substâncias distintas: a mente (substância pensante) e o corpo (substância extensa). Este é considerado como uma máquina operando sempre da mesma forma, segundo as suas próprias leis. Entretanto, com o desenvolvimento das ciências este modelo mecânico é substituído por outro mais elaborado, mas persiste a idéia de corpo submetido às leis da natureza. Trata-se de uma concepção determinista, que reduz o homem a uma dimensão corpórea, sujeito às forças da natureza, tornando-se incapaz de gerir o seu próprio destino.
No decorrer do século XX, quando as ciências humanas, estabelecem seus métodos, nota-se grande influência naturalista usando a experimentação. A psicologia experimental, por exemplo, privilegiava no homem só o aspecto exterior, desprezando a consciência por considerá-la incessível aos procedimentos científicos.
Houve, também, a influência do behaviorismo, ou psicologia comportamentalista, que até hoje influencia diversas tendências na educação, inspirando uma metodologia que enfatiza rigor na programação dos passos para se adquirir o conhecimento, assim como técnicas e procedimentos pedagógicos. Acrescenta-se ainda, neste movimento, a criação por Skinner, da máquina de ensinar, que foi um dos representantes do mesmo.
Além disso, em outras teorias pedagógicas, embora não tanto quanto no behaviorismo, também se nota a participação das diversas ciências humanas experimentais na elaboração da metodologia. Como vocês devem ter percebido, o que caracteriza a tendência naturalista é, de acordo com Aranha(1996, p113, a tentativa de adequar a metodologia das ciências humanas ao método das ciências naturais, que se baseia na experimentação, no controle e na generalização.

2 CONCEPÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL


É o período do Romantismo alemão, século XVII, caracterizado pela crítica ao mecanicismo newtoniano e ao empirismo de Locke.
Um significativo representante deste movimento é Jean Jacques Rousseau, que fez a Nova Revolução Copernicana na educação, ao deslocar o centro tradicional do processo fixado no mestre, para o discípulo; mais ainda, coloca o sentimento, cuja sede é o coração, ou a consciência moral, no centro de sua visão de homem. Exerceu grande influência revolucionando as teorias pedagógicas.
Embora fosse ainda um pensador do Iluminismo, que prestigiava a razão, Rousseau, ao destacar os dois níveis, natureza e sociedade, já se encaminhava para uma nova visão de homem.
O Idealismo alemão, corrente subjacente ao Romantismo, teve como expoente o filósofo Hegel, que desenvolveu a filosofia do devir, que concebe o homem como o vir a ser (concepção dialética); com isso privilegia a história, mudando a direção da antropologia: o homem passa a ser pensado como ser no tempo; o homem tem a sua história.
Segundo a concepção dialética de Hegel, a história não é uma simples justaposição de acontecimentos, mas um processo, longo e dramático, cujo motor interno é a contradição. Muda o que se entende por verdade; não é mais um fato, uma essência, uma realidade dada, mas o resultado de um desenvolvimento do Espírito.
Esta concepção idealista (que considera o indivíduo como participando de movimento de manifestação do espírito), vem a ser confrontada por Marx (1818-1883); houve uma transformação do idealismo hegeliano para o materialismo marxista: o mundo material é anterior ao espírito e este deriva daquele.
De acordo com o materialismo, para se estudar o homem e a sociedade, deve-se partir da análise do que os homens fazem, da forma como produz os bens materiais necessários à vida; assim saberá como eles pensam. Para Marx, não há natureza humana universal, mas seres práticos definindo-se pela produção e trabalho coletivo. Marx define o homem como ser real (concreto), situado num contexto histórico-social.
Também, no decorrer do século XIX, outros filósofos se posicionaram contra a concepção tradicional, assim como: Kierkegaard, Stirner e Nietzsche favoráveis à concretude da vida humana, inserida numa realidade histórico-social.
No século XX surge a Fenomenologia, fundada por Russerl, tendo como principais seguidores Max Scheler, Heidegger, Merleau-Ponty e Sartre, sendo este um dos filósofos mais populares. Para Sartre só o homem é um ser-para-si, aberto à possibilidade de construir ele próprio a sua existência; sua célebre frase a existência precede a essência, vem nos mostrar que o homem não é não é mais que o que ele faz.
A concepção histórico-social é expressada, como vimos, em diversas tendências, havendo mesmo divergências entre elas; entretanto em todas se verifica a preocupação com o processo (nada é estático), com a contradição (não há linearidade no desenvolvimento dos fatos) e com o caráter social do entrosamento humano ( relações humanas que se expressam de diferentes formas).
Tais concepções marcam de forma indelével o ideal da pedagogia contemporânea, diferindo-se das explicações essencialistas e estáticas. O homem passa a ser considerado como pessoa ou ser social, havendo a interação entre sujeito e sociedade, sendo o objetivo da educação, formar o cidadão para esta sociedade.

3 TORNAR-SE PESSOA


As considerações acima colocadas nos mostram a importância da antropologia como orientadora do trabalho pedagógico. Reconhecendo que a história continua seu percurso por meio das contradições a ela inerentes, precisamos estar sempre dispostos a rever nossas próprias concepções de homem.
O conceito de infância que conhecemos hoje,surge na modernidade, quando a concepção burguesa de mundo se fortalece e se difunde.
Uma observação útil ao pedagogo, a partir dessas colocações, é que quando se fala em criança, é impossível se referir à criança em si; deve-se considerar o tempo, o lugar e a estrutura social onde ela vive, pois não existe uma natureza universal de criança.
É claro que existe a concordância biológica, a dependência social; entretanto, há variação de comunidade para comunidade da alimentação, da vestimenta, do tratamento, da consideração do ser criança etc.
Na Idade Média, a criança era considerada como adulto; nas famílias nobres as crianças, ao se desgarrarem da mãe, aprendiam a ser pajem, depois escudeiro, preparando-se para ser cavaleiro; participavam das festas dos adultos. Nas famílias do povo, a criança trabalhava no campo ou em outro ofício, como aprendiz.
Com a alteração social ocorrida, tendo em vista o panorama do Renascimento, muda a expectativa em relação à imagem da infância; a criança é afastada das atividades, porém surge a sua imagem de fragilidade, dependência, impotência e inacabamento. Só a partir da Idade Moderna surge uma teoria que visa a ”proteção e a vigilância da criança”, havendo assim, certa estabilidade familiar.
No entanto, no final do século XX, esse modelo de família e de criança já se encontra em crise. A palavra crise não deve ser interpretada com um caos, mas como uma situação que nos leva a refletir a respeito desse novo homem que surge a partir do impacto dos efeitos da globalização do mundo, da informática , dos meios de comunicação de massa e conseqüentemente de uma sociedade em busca do ter e não do ser.
Há situações em que os professores se encontram perplexos, diante de classes cujos jovens eles não conseguem compreender. Este é o desafio para os educadores que deverão pensar em novos objetivos, novas sensibilidades, novos motivos para esse homem que surge, seja ele pós moderno, neomoderno, ou qualquer outro nome que lhe queiramos dar.

CONCLUSÃO

Como vocês viram, foram colocadas três teorias que caracterizaram as concepções de homem no decorrer da história. Muito mais poderia ser discutido; entretanto, como o objetivo foi o de mostrar a importância da antropologia filosófica para a pedagogia, acreditamos que vocês estejam conscientes da necessidade de se conhecer a clientela com a qual irão trabalhar.
Uma vez ciente da clientela, estabelece-se os objetivos, os conteúdos a serem ministrados e a metodologia, buscando priorizar os valores que definem o comportamento social, a fim de promover o homem.
Promover o homem, significa torná-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação, para intervir nela transformando-a e se transformando.

REFERÊNCIAS

ARANHA, M.L.A. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 1996.
SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1980.
SEVERINO, A.J. Filosofia da educação: construindo a cidadania. São Paulo: FTD, 1994.

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