sábado, 4 de abril de 2009

Concepções de Homem - Filosofia da educação

Área Educacional
CONCEPÇÕES DE HOMEM

Se Emílio, por exemplo, quebra a vidraça, deixam-no dormir sob o vento. Se ele a quebra de novo, é colocado em um quarto sem janelas.”Dizei-lhe secamente, mas sem raiva: as janelas são minhas; aí foram colocadas por meus cuidados; quero garanti-las”. Com isso, Emílio está diante de seus atos e de suas conseqüências. Enquanto sucumbe ao impulso, é escravo do seu desejo e, quando aprende que deve haver leis, ele mesmo as descobre: a liberdade é, pois, a obediência à lei por ele mesmo aceita.
(M.L.de A. Aranha)

INTRODUÇÃO


Como vocês viram, na epígrafe do capítulo, existe a preocupação do filósofo italiano, Antônio Gramsci, em saber “O que é o homem?”. Trata-se da primeira e principal pergunta da filosofia. Levanta uma reflexão sobre o que somos, o que pensamos sobre nós mesmos e no que podemos nos tornar; o autor busca respostas nas condições dadas nos dias de hoje. Trata-se de uma questão antropológica, ou seja, do questionamento filosófico a respeito do conceito que o homem o faz de si mesmo.
Este é o objetivo deste capítulo; fazer um retrospecto das diversas concepções de homem e mostrar o relacionamento com Filosofia da Educação.
Como reflexão filosófica, a Filosofia da Educação desenvolve sua tríplice tarefa: antropológica, epistemológica e axiológica.

ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA


A questão antropológica é a primeira que se coloca em qualquer situação vivida pelo homem, mesmo que ele não esteja consciente disso, porque todas as nossas concepções de mundo, de sociedade, e todas as nossas formas de agir partem de uma idéia de homem, que a elas se encontram subjacentes.
Por este motivo, é importante na prática educativa que se tenha claramente tematizada a questão antropológica, a fim de que a atuação do educador seja intencional, e não se faça apenas de uma forma empírica.
Uma análise das teorias pedagógicas nos mostrará o conceito de homem que anima suas diretrizes. Pensemos na educação tradicional, que valoriza a transmissão da cultura geral e a realização intelectual do homem. Para o cumprimento desta tarefa, centra a atividade escolar na figura do mestre, considerado transmissor de conhecimento.
Já na escola nova, o ensino se volta para a existência, para a vida, para a atividade do aluno, passando este a ser o centro do processo. Como a escolha dos conteúdos gira em torno dos interesses infantis, o professor se esforça por despertar a atenção e a curiosidade da criança, sem lhe cercear a espontaneidade, As noções gerais não seriam transmitidas pelo professor, pois a abstração deve resultar de experiências do próprio aluno.
A fim de superar o estreito intelectualismo da escola tradicional, a escola nova tem por princípio o “aprender fazendo”. Assim busca a formação do homem integral; constituído não só de razão, mas de sentimentos, emoções e ação.
Como se vê, as duas teorias denotam expectativas diferentes de transformação do homem naquilo que ele deve ser. Em cada uma são priorizados valores que determinam o conteúdo, o modo como deve ser passado, a partir de objetivos propostos ao homem que se quer formar. Fica definido que na escola tradicional é o homem intelectual e na escola nova, busca o aspecto existencial do homem.
Embora tenham sido várias as teorias antropológicas, três são suficientes para que vocês percebam a evolução do conceito de homem, sempre influenciado pelas transformações naturais da sociedade e o seu relacionamento nesta sociedade.

CONCEPÇÃO METAFÍSICA­­­­­­­­­­­­­­

Nesta concepção, herdada dos gregos, busca-se a unidade na multiplicidade dos seres, a essência que caracteriza cada coisa. De acordo com Severino (1994, p 31), essência é o conjunto de características, supostamente fixas e imutáveis, que constitui cada ser e o identifica em relação aos outros.
Assim, o conceito de homem é compreendido a partir de uma natureza imutável; apesar da diferença entre os seres humanos, existia uma essência humana, um modelo a ser atingido com o desenvolvimento.
Esta concepção está na mais antiga das teorias pedagógicas, desde Platão, Aristóteles, passando pela Idade Média e influenciando a escola tradicional que surge na Idade Moderna.
Nesta concepção, a educação é compreendida como o processo de aperfeiçoamento, proporcionando ao indivíduo a “realização de suas potencialidades”. É um modelo de homem que a criança deve alcançar, atualizando a essência que tem em potência. Confirma estas colocações uma célebre frase de Kant, no século XVIII: o fim da educação é desenvolver em cada indivíduo, toda a perfeição de que ele seja capaz.
O educador polonês Suchodolski denomina esta concepção de essencialista, que dominou a pedagogia durante um longo período da história da educação, e ainda predomina em várias escolas.


REFERÊNCIAS

ARANHA, M.L.A. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 1996.
SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez, 1980.
SEVERINO, A.J. Filosofia da educação: construindo a cidadania. São Paulo: FTD, 1994.

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