sábado, 4 de abril de 2009

As relações de trabalho- Filosofia da educação

Ár
AS RELAÇÕES DE TRABALHO

É importante enfatizar que os professores devem responsabilizar-se ativamente por levantar questões sérias sobre o que ensinam, como devem ensinar e quais os objetivos mais amplos por que lutam.Isto significa que devem desempenhar papel importante na definição dos propósitos e das condições da escolarização.
(Henry Giroux)

INTRODUÇÃO

Este texto vem reafirmar o que vocês já viram anteriormente; entretanto como são fundamentais algumas explicações, achamos por bem colocá-las novamente. Acrescente-se a isto a definição de trabalho.
Como vimos, é pelo trabalho que os homens garantem sua própria existência material, pois não poderiam sobreviver sem se apropriarem continuamente dos elementos naturais, que constituem e mantêm vivo o seu organismo físico biológico. Precisam, pois, retirá-los da natureza ambiente. E ele os retira mediante uma prática produtiva, ou seja, sua energia vital, sua força física, para produzir tanto esses bens naturais como os próprios meios de produção.
Essa ação humana sobre a natureza, capaz de transformá-la, viabilizá-la pela impregnação por parte de uma intenção subjetiva, é a práxis dos homens.

1) O trabalho como práxis

Para designar a atividade própria do homem, distinta da ação animal, costuma-se usar a palavra práxis, conceito que não se identifica com a noção de prática propriamente dita, mas significa união dialética da teoria e da prática. Chamamos de dialética a relação entre teoria e prática porque não existe anterioridade nem superioridade entre uma e outra, mas sim reciprocidade. Ou seja, uma não pode ser compreendida sem a outra, pois ambas se encontram numa constante relação de troca mútua.
Como práxis, qualquer ação humana é sempre carregada de teoria (explicações, justificativas, intenções, previsões etc.). Também toda teoria, como expressão das ações humanas já realizadas ou por realizar, resulta da prática. Convém ainda entender a práxis dentro de um contexto social, pois as ações se realizam entre homens.
Ora, talvez vocês estejam se perguntando se é assim mesmo que funciona o trabalho na sociedade em que vivemos, pois se percebe, ao contrário, que algumas profissões são predominantemente teóricas, enquanto outras se reduzem a formas rudimentares de trabalho manual.
Mais ainda, lembrando o que já viram sobre a importância do trabalho como marca distintiva entre o homem e os demais animais, entre cultura e natureza, talvez cause estranheza a relação estabelecida entre trabalho e liberdade, uma vez que, com certeza, não é essa a realidade encontrada na história da humanidade nem no dia-a-dia de cada um.
Aliás a concepção de trabalho sempre esteve ligada a uma visão negativa, que implica obrigação e constrangimento. Na bíblia, Adão e Eva vivem felizes até que são expulsos do Paraíso e Adão é “condenado” ao trabalho com o “suor de seu rosto”, cabendo a Eva também o “trabalho” do parto.
A palavra trabalho vem do vocábulo latino tripaliari, ou do substantivo tripalium, aparelho de tortura formado por três paus ao qual eram atados os condenados e que também servia para manter presos os animais difíceis de ferrar. Assim, vemos na própria etimologia da palavra a associação do trabalho com tortura, sofrimento, pena, labuta.
É apenas aparente, no entanto, a contradição entre o que foi dito anteriormente e a realidade dos fatos. O trabalho é condição de liberdade desde que o trabalhador não esteja submetido a constrangimentos externos, tais como a exploração, situação em que deixa de buscar a satisfação das suas necessidades para realizar aquelas que lhe foram impostas por outros. Quando isso ocorre, o trabalho torna-se inadequado à humanização: trata-se do trabalho alienado.

2) Alienação

Alienação, como já viram, vem do verbo alienaria, “afastar, distanciar, separar”. Alienus significa “que pertence a outro, alheio, estranho”. Consiste em transferir para outrem o que é seu.
Quando em uma sociedade aparecem segmentos dominantes que exploram o trabalho humano—como nos regimes de escravidão—ou ainda quando, para sobreviver, o indivíduo precisa vender sua força de trabalho em troca de um salário, estamos diante de situações em que o homem perde a posse daquilo que produz. O produto do trabalho é separado alienado de quem produziu.
Com a perda da posse do produto, o próprio homem não mais se pertence: não escolhe o horário, o ritmo de trabalho, nem decide sobre o salário; não projeta o que vai ser feito, sendo comandado de fora, por forças estranhas a ele. Com a alienação do produto, o homem também se torna alienado, deixando de ser o centro de referência de si mesmo.

3) A sociedade industrial

Ao analisar a práxis humana, constatamos que ela supõe um “trabalho material”, cujo resultado é a produção dos bens materiais. Para tanto, o homem antecipa a ação por meio do pensamento, criando idéias, teorias, que seriam na verdade o resultado de um “trabalho não-material”, ou seja, o trabalho intelectual.
Desde o início da civilização, no entanto, sempre que na sociedade são criadas relações hierárquicas, dá-se a separação entre trabalho intelectual e manual. Com isso, aqueles que se ocupam com o trabalho intelectual tendem a desprezar as atividades manuais, enquanto aos trabalhadores braçais, ao assumirem esta “inferioridade” imposta, deixam de ter clareza teórica suficiente a respeito de sua prática, mantendo-se presos a uma atividade tão intensa e tão dividida que a reflexão se torna quase impossível.
Como o trabalhador não realiza, ele mesmo, a reflexão sobre o seu fazer, acolhe sem crítica as formas de pensar vigentes na sociedade, elaboradas por sua vez pelos grupos que detêm o controle das instituições e cujas atividades são predominantemente diretivas. Essas idéias dizem respeito aos conhecimentos, valores, normas de ação, e são disseminadas pelos meios mais diversos: inclusive a escola - e aceitas pela maioria.
A situação torna-se mais crítica com o desenvolvimento do sistema capitalista, a partir do nascimento das fábricas, nos séculos XVII e XVIII. Os trabalhadores sofrem uma mudança radical em relação aos hábitos adquiridos nas manufaturas, nas quais a atividade era até então predominantemente doméstica. Com o surgimento das fábricas—em que os trabalhadores se adaptam em grandes galpões e se submetem a um ritmo de trabalho cada vez mais intenso—acentua-se a dicotomia concepção x execução do trabalho, ou seja, o processo de separação entre aqueles que concebem, criam, inventam o que vai ser produzido e aqueles que são obrigados à simples execução do trabalho.

4) Professores como mão-de-obra alienada?

Os riscos de alienação que ameaçam os profissionais em geral no mundo contemporâneo atingem também os professores, profissionais que desenvolvem um tipo de trabalho intelectual ou não material, muito peculiar. Enquanto, por exemplo, para os intelectuais que produzem obras de arte e livros, a obra de pensamento se encontra separada de quem a produziu; no caso do professor não existe essa separação, já que seu trabalho se desenvolve durante o ato mesmo de se produzir.
A esse respeito, diz o professor Saviani (1994, p.23): A aula é alguma coisa que supõe, ao mesmo tempo, a presença do professor e a presença do aluno. Ou seja, o ato de dar aula é inseparável da produção desse ato e de seu consumo. A aula é, pois, produzida e consumida ao mesmo tempo.
Justamente nesse contato com o aluno é que poderia ser inculcada a ideologia e a alienação, o que foi amplamente enfatizado por muitos autores que estudaram a escola como reprodutora do sistema vigente. Nesse sentido: mesmo imbuídos de boas intenções, os professores estariam repassando a seus alunos valores que precisariam na verdade ser revistos e criticados.
Assim, embora saibamos que a ação do professor pode gerar um espaço de renovação e crítica, é preciso reconhecer que os teóricos, acima referidos, alertaram para riscos, com os quais devemos nos preocupar.
De acordo com Aranha (1996, p.26), é bom lembrar que esses riscos persistem, sobretudo, na atuação desligada do contexto em que se vive, quando predominam práticas despolitizadas e esvaziadas do conteúdo ético. Também favorece a alienação rotinização do trabalho, quando se mergulha na repetição enfadonha de fórmulas e se permite o prevalecimento de registros e controles burocráticos esquecendo-se das situações emergenciais do contexto social e cultural em que se atua.
Além disso, há o risco de se sucumbir à racionalidade tecnocrática, típica do taylorismo, em que é diminuída a autonomia do professor: a legislação é aprovada sem a participação do profissional da educação e , pior ainda, o planejamento dos cursos é feito externamente, “ com pacotes” de materiais curriculares que transformam o professor em simples executor de um projeto.

Conclusão

Como vocês podem observar, o professor precisa estar bem informado da situação econômica e política do país. Quando Aranha fala em práticas despolitizadas e esvaziadas de conteúdo ético, é justamente no sentido de chamar atenção que a educação não é neutra; o professor precisa se posicionar e fazer educação e não somente falar sobre educação. É claro que não se trata de política partidária; trata-se de orientar os alunos para a vida em sociedade.
Esperamos que, com estas idéias colocadas, vocês não sejam profissionais com mão-de-obra alienada.

REFERÊNCIAS

ARANHA, M.L.A. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 1996
SAVIANI, D. Pedagogia histórico- primeiras aproximações. 4.ed. Campinas: Autores Associados, 1994.
SEVERINO, A.J. Filosofia da educação: construindo a cidadania. São Paulo: FTD, 1994.ea Educacional

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