sábado, 28 de março de 2009

Área Educacional

Área Educacional

OBJETIVOS


Apresentar aos alunos uma visão diferenciada sobre a didática, através de uma nova realidade social e de trabalho, que o professor brasileiro enfrenta.

LEITURA RECOMENDADA


Fala, mestre!

Philippe Perrenoud
Construindo competências
O objetivo agora não é só passar conteúdos, mas preparar - todos - para a vida na sociedade moderna.
"O aluno acumula saberes, passa nos exames, mas não consegue usar o que aprendeu em situações reais” Desenvolver competências nos alunos é a palavra de ordem da educação moderna. Para formar pessoas preparadas para a nova realidade social e do trabalho, o professor brasileiro enfrenta o desafio de mudar sua postura frente à classe, ceder tempo de aula para atividades que integrem diversas disciplinas e estar disposto a aprender com a turma. De nada adianta, porém, exigir mudança do docente se a escola não diminuir o peso dos conteúdos disciplinares e a sociedade não se empenhar em definir quais competências quer que seus estudantes desenvolvam. É isso que defende o sociólogo suíço Philippe Perrenoud, doutor em Sociologia e Antropologia, professor da Universidade de Genebra e especialista em práticas pedagógicas e instituições de ensino. Autor do livro Dez Novas Competências para Ensinar, ele concedeu por e-mail a seguinte entrevista exclusiva. NOVA ESCOLA> De onde vem a idéia de competência na educação? Philippe Perrenoud<> Ou seja, a escola não prepara o aluno para usar o conhecimento no seu dia-a-dia? Perrenoud<> Quais as competências que os alunos devem ter adquirido ao terminar a escolarização?Perrenoud< Essa é uma escolha da sociedade, que deve ser baseada em um conhecimento amplo e atualizado das práticas sociais. Não basta nomear uma comissão de redação para se elaborar um conjunto de competências. Certos países contentaram-se em reformular os programas tradicionais, colocando um verbo de ação na frente dos saberes disciplinares. Onde se lia "ensinar o teorema de Pitágoras", agora lê-se "servir-se do teorema de Pitágoras para resolver problemas de geometria". Isso é maquiagem. A descrição de competências deve partir da análise de situações, da ação, e disso derivar conhecimentos. Os países que querem ir rápido demais se lançam na elaboração de programas sem dedicar tempo à observação das práticas sociais, sem identificar situações com as quais as pessoas são e serão verdadeiramente confrontadas. O que sabemos das competências que precisam um desempregado, um imigrante, um portador de deficiência, uma mãe solteira, um jovem da periferia? Se o sistema educativo não perder tempo reconstruindo a transposição didática (a transformação de um conhecimento científico em conhecimento escolar), não questionará as finalidades da escola e se contentará em verter antigos conteúdos dentro de um novo recipiente. Sob a capa de competências, dá-se ênfase a capacidades sem contexto. Resultado: conserva-se o essencial dos saberes necessários aos estudos longos e os lobbies disciplinares ficam satisfeitos.
Antônio Milena

"O que se sabe verdadeiramente sobre as competências que são necessárias a um desempregado" NE> O que é preciso fazer para que a formação geral acompanhe os objetivos da profissional em termos de competência? Perrenoud<> Nesse contexto, quais são as mudanças no papel do professor? Perrenoud< É inútil exigir esforços sobre-humanos dos professores se o sistema educativo apenas adota a linguagem das competências, sem mudar nada de fundamental. O melhor indício de uma mudança profunda é a diminuição do peso dos conteúdos disciplinares e uma avaliação formativa e certificativa, orientada claramente para as competências. As competências não dão as costas para os saberes, mas não se pode pretender desenvolvê-las sem dedicar o tempo necessário para colocá-las em prática. Não basta juntar uma situação de transferência no final de cada capítulo de um curso convencional. Para o sistema mudar, é preciso reformular seus programas em termos de desenvolvimento de competências verdadeiras, liberar disciplinas, introduzir os ciclos de aprendizagem plurianuais ao longo do curso, chamar para a cooperação profissional e convidar o professor para uma pedagogia diferenciada, mudando, então, sua representação e sua prática. NE> O que o professor deve fazer para modificar sua prática? Perrenoud<> Quais são as qualidades profissionais que o professor deve ter para ajudar os alunos a desenvolver competências? Perrenoud< Antes de ter competências técnicas, ele deveria ser capaz de identificar e de valorizar suas próprias competências, dentro de sua profissão e de outras práticas sociais. Isso exige um trabalho sobre sua relação com o saber. Muitas vezes, o professor é alguém que ama o saber pelo saber, que é bem-sucedido na escola, que tem uma identidade disciplinar forte desde o Ensino Médio. Ora, os alunos não são e não querem ser como ele. O professor deve, então, se colocar no lugar desses alunos. Aí ele começará a procurar meios de interessar sua turma pelo saber — não como algo em si mesmo, mas como ferramentas para compreender o mundo e agir sobre ele. O principal recurso do professor é a postura reflexiva, sua capacidade de observar, de regular, de inovar, de aprender com os outros, com os alunos, com a experiência. Mas, com certeza, existem capacidades mais precisas.
Masao Goto Filho

"A avaliação é o que realmente conta. E ela deve ser feita com problemas complexos e tarefas contextualizadas" NE> Como o professor deve empregar as disciplinas dentro desse conceito? Perrenoud<> Como deve ser a avaliação em uma escola orientada para o desenvolvimento de competências? Perrenoud<> Em quanto tempo é possível perceber resultados dessas mudanças no sistema de ensino? Perrenoud<> O que uma reforma dessa natureza pode fazer por um país como o Brasil? Perrenoud< Seu país confronta-se com o desafio de escolarização de crianças e adolescentes e de formação de professores qualificados em todas as regiões. Há também a questão da reprovação e da evasão. A abordagem por competências não vai resolver esses problemas num passe de mágica. Entretanto, não vamos negligenciar três suportes dessa abordagem, caso ela atenda suas ambições. Ela pode aumentar o sentido de trabalho escolar e modificar a relação com o saber dos alunos em dificuldade; favorecer as aproximações construtivistas, a avaliação formativa, a pedagogia diferenciada, que vai facilitar a assimilação ativa dos saberes; colocar os professores em movimento, incitando-os a falar de pedagogia e a cooperar no quadro de equipes ou de projetos do estabelecimento escolar. Por isso, é sensato integrar desde já as abordagens por competências à formação — inicial e contínua — e à identidade profissional dos professores. Não nos esqueçamos de que, no final das contas, o objetivo principal é democratizar o acesso ao saber e às competências. Todo o resto é apenas um meio de atingir esse objetivo.



Construir as Competências desde a Escola, Philippe Perrenoud, 90 pág., Artmed
Dez Novas Competências para Ensinar, 192 pág.

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