domingo, 29 de março de 2009

O mundo moderno do adolescente enfocando seu relacionamento familiar, seus medos e aspirações- Psicologia do desenvolvimento

Área Ed

OBJETIVOS


Neste texto trataremos do mundo moderno do adolescente enfocando seu relacionado familiar, seus medos e aspirações.

LEITURA RECOMENDADA


Agora faremos um relato de um trabalho de intervenção junto às adolescentes sob a coordenação da Professora Drª. Maria Beatriz Loureiro de Oliveira, cujo relatório de pesquisa sintetizamos. Além disso, faremos uma breve síntese das características dos adolescentes, com a base em outros autores, com os quais a autora desta pesquisa faz uma interlocução.
Biasoli-Alves, ao relatar algumas pesquisas sobre a preocupação das mães com o desenvolvimento de seus filhos, mostra que na sociedade contemporânea, urbana e industrializada, há incoerências na prática educativa que as famílias adotam. Uma delas refere-se à forma de socializar sua prole segundo modelos propostos pelo grupo mais amplo. Assim sendo, com a intenção de preparar a criança para o futuro, acaba-se por reduzir sua infância, transformando o lúdico em tarefa e competições de forma que a criança acabe vivendo em função de atividades e de obrigações impostas em que o uso do tempo passa a ser uma determinação do mundo adulto.
Interessante observar que o adolescente é resultado deste tipo de incoerência que se apresenta de forma complexa de vez que, conforme Aberastury (1990), as mudanças corporais que normalmente ocorrem provocam muita ansiedade e fazem com que o jovem fuja do mundo exterior e se refugie no seu mundo interno. Esta relação entre o que se processa no seu mundo interno e a realidade exterior pode determinar a qualidade da crise adolescente. Queremos evidenciar a importância do “tempo adolescente” no sentido em que ele possa estar desenvolvendo mecanismos que propiciem menor conflito entre o mundo interno e a realidade exterior, no que se refere ao tempo necessário para a realização de uma escolha ajustada (Bohoslawsky).
Leva-se em conta o fato de que o próprio termo sujeito faz referência ao subjetivo e também é entendido como sujeitado, ou seja, é resultado de múltiplas relações, da expressão do desejo dos pais, dos professores e da própria sociedade. Como diz Müller (1988) “o sujeito é alguém originariamente indefinido, exposto ou sujeito a influências” (p. 50). Assim, quando inseridos no grupo compartilham desejos, conflitos e repensam seus papéis.
Estas influências promovem a emergência dos conflitos, as transferências são múltiplas e se compartilham não só as fantasias como também as representações.
A adolescência é o período em que o sujeito tem de adotar, como diz Müller (1988), tarefas específicas relativas a desempenhar o seu próprio papel, se autodefinindo e se reconhecendo a partir do que deseja ser e renunciar àquilo que não pode ser ou não quer. É necessário um processo doloroso de elaboração cujos eixos são sua própria identidade, o trabalho e o estudo (Müller, p. 62).
A segunda questão que evidenciamos refere-se ao medo que o adolescente tem de enfrentar o mundo adulto.
Neste caso, os pais são, em geral, os personagens centrais. Percebe-se que idealizam situações profissionais e ocupacionais para seus filhos que não consideram seus desejos, necessidades e outras questões que são característicos de suas personalidades. Quando investigamos sobre estas interferências os aspectos mais evidentes foram os seguintes:
Os adultos julgam que o adolescente não tem competência para escolher o curso superior e acabam por fazer opções que não “combinam” com sua personalidade. Além desta dificuldade preocupam-se com a idéia de que os jovens não têm maturidade para escolher um curso e, conseqüentemente, para sair de perto dos pais.
Conforme Chauí (1997) a liberdade “não se encontra na ilusão do posso tudo, nem no conformismo do nada posso” (p. 363). Está no fato de nos abrirmos para novas direções e dar novos sentidos ao que está dado. É a tomada de consciência dos determinismos que possibilita organizar um projeto de ação para transformar a realidade. Assim, de acordo com Chauí (1997) deixamos de nos submeter à situação dada e passamos a atuar sobre ela, abandonando o papel de sujeito passivo.
Neste sentido objetivamos evidenciar o medo proporcionando pelos valores introjetados a partir das interferências ao ingresso no mundo adulto. Uma terceira questão chamamos de Representações e significados que o jovem traz com relação aos medos.
De acordo com Rosenthal e Knobel (1981), o adolescente entra no que denominam de crise de temporalidade. Segundo os autores o pensamento adolescente oscila entre a noção que a criança tem sobre a limitação de espaço e o conceito limitado de tempo e a noção que o adulto tem do infinito espacial e da temporalidade da existência. Esta confusão e contradições advindas podem trazer sentimentos de impotência absoluta.
A partir deste entendimento, por isso a importância de identificar os medos e seus significados para possibilitar que o jovem possa tomar consciência das reais determinações no sentido de transformar a realidade, organizar seu projeto de vida para superá-los, deixando de ser passivo. Desta forma, ele poderá, pode superar os sentimentos de impotência característica do momento adolescente.
Num primeiro momento as representações e significados dos medos foram traduzidos pelo nosso grupo de estudos como: medo de fazer a opção errada que vem relacionado ao medo de fracassar, traduzido pela busca do sucesso. Os valores relacionados a que denominamos “ideologia do sucesso” imposta pelo mundo adulto, evidencia o pensamento primário relacionado ao imediatismo com que é encarado o desejo de realização. Ao mesmo tempo o adolescente oscila entre o medo de não ser aprovado nas provas do vestibular para ingresso no curso superior e o medo da separação caracterizado pela possibilidade de ter de se distanciar da família, dos amigos e de outros relacionamentos afetivos. Concomitantemente quer corresponder às expectativas das pessoas pelas quais tem afeto e tem medo de decepcioná-las e ser desprezado por elas. Compara-se, constantemente, com outras pessoas que considera bem sucedidas, no caso irmãos, parentes ou conhecidos ou até os que supõe terem maiores condições de obter sucesso em seu projeto, como no caso dos amigos que estão submetidos às mesmas pressões. Supõe que estes têm menos dificuldades intelectuais e/ou financeiras. A partir destas representações vai se constituindo o juízo de realidade na medida em que o adolescente vai elaborando as perdas ou àquilo que se denomina de lutos. Portanto a tendência, segundo Rosenthal e Knobel (1981) é periódica. Associado a estas noções de temporalidade está o medo ao desconhecido representado pela instabilidade do mercado de trabalho. A proposta da intervenção está também vinculada à necessidade do adolescente conviver com a relação passado, presente e futuro. O processo vivenciado pelo jovem no processo de intervenção favorece o processo de elaboração dos lutos. Permite que o adolescente se refugie no seu mundo interno favorecendo o enriquecimento do ego, a partir da discriminação de sua localização temporal.
Aberastury (1983) coloca que “as características deste mundo interno haverão de determinar em sua maior parte a qualidade da crise” (p. 227). Assim como observa a autora que o mundo exterior permitirá ou impedirá que desenvolva o que é típico do pensamento e da ação do adolescente. As modificações internas vão se produzindo e ocorre o processo de construção das estruturas formais do pensamento. Estas estruturas é que permitem o acesso ao mundo adulto.
Quando o sujeito do nosso estudo reformula o seu discurso, entendido aqui como a mudança das expressões dos medos, transformando o conflito interno em novas formas de enfrentamento do mundo adulto, entendemos como uma situação que permite o crescimento, ou seja, construir-se a partir da imagem que faz de seus objetos internos, confrontando-os com os que Aberastury denomina de novo mundo externo.


ucacional

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