terça-feira, 31 de março de 2009

De 1500 a 1822- História da educação II

Área Educacional

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De 1500 a 1822 a educação destinada à mulher compreendia somente os cuidados domésticos e familiares, seja qual fosse sua cor ou sua posição social. O irônico é que a reivindicação para que as mulheres aprendessem a ler partiu dos indígenas que apelaram para o Padre Manoel da Nóbrega que escreveu para a Rainha de Portugal Dona Catarina, a qual já havia recebido relatos do próprio Padre José de Anchieta de que as mulheres indígenas eram as mais assíduas na catequese, os padres consideravam que a instrução a mulher indígena gerasse um respeito mútuo e diminuísse os constantes abusos na colônia predominantemente masculina, porém a Rainha nega o pedido do Padre.
Mas algumas indígenas conseguiram aprender a ler e escrever a primeira parece ter sido Catarina Paraguassu ou Madalena Caramuru.
As mulheres brancas da colônia eram trazidas para serem meramente reprodutoras e não importando classe social ou estado mental. Mesmo sendo tão menosprezadas quando era necessário assumiam com êxito funções masculinas.
Na metade do séc. XVII surgem os conventos no Brasil, onde as mulheres puderam começar a aprender a ler e escrever havia pouca vocação nas moças levadas para os conventos às vezes iam para o convento por medo do pai de ter que dividir sua propriedade com futuros genros ou porque haviam “errado”, com o detalhe que não eram aceitas negras ou mulatas.
Depois da expulsão dos jesuítas em 1759, houve uma proposta para educação feminina que incluía, até mesmo aritmético, mas pouco dessa proposta chegou do Brasil, os conventos continuaram e os escândalos também, inúmeros casos de nobres que se relacionavam com freiras.
Depois da vinda da família real pouco mudou e há registros de que a educação tornou-se ainda mais escassa, era feita por professores que atendiam em casa e em igrejas.
Na década de 30 cria-se a 1ª escola normal do Brasil, a Escola Normal de Niterói, que por seu potencial organizativo e civilizatório, transforma-se numa das maiores instituições para consolidar e expandir a supremacia da classe senhorial que estava no poder. Para a admissão na escola as exigências recaíam muito mais nas condições morais dos indivíduos do que em sua própria formação intelectual.
As escolas normais serviam para formar os novos professores, que eram avaliados pelo diretor que aplicava um ensino não seriado e tinha um currículo bem simplificado. Por volta de 1859 é implantada as “cátedras”, que trazem com elas a caligrafia, a metrologia e a cosmografia, que até então não faziam parte do currículo.
É importante frisar a feminização do magistério começou ocorrer nessa época, já que foi a primeira porta para a independência econômica e social da mulher.
Em 1851 há a extinção oficial da escola normal, caem assim as exigências para os professores primários e sem dúvida a qualidade do ensino, este fato foi sucedido de algumas mudanças e movimentos que buscaram a conquista da identidade profissional do professor.
As crescentes exigências de educação feminina levaram à contratação de educadoras particulares por parte das ricas famílias alemãs. As preceptoras alemãs foram “exportadas” para muitos países, inclusive o Brasil.
A instrução particular das meninas paulistas, assim como em outras províncias do Brasil, começava no lar. Se nas primeiras décadas do Império ainda era pequeno o número de professoras estrangeiras que se encarregava da instrução das filhas das ricas famílias brasileiras, na segunda metade do século XIX, as preceptoras alemãs já faziam partes da realidade das elites brasileiras.
Surgiram no século XX outras alternativas para a mulher européia de trabalho, além de professora, e no Brasil com a criação dos colégios religiosos houve o termino da educação das preceptoras, também conhecidas como Fräulein.

Educação Feminina

Desde seu início, a educação feminina foi concebida a partir da visão romântica, a mulher era educada para ser uma boa esposa e uma boa mãe, “os maridos querem mulheres que falem pouco e trabalhem muito”, educação calcada na religião e na moral. A educação feminina estava bem distante da formação intelectual, a qual era reservada para os homens, a elas bastavam o ensino primário e o desenvolvimento das habilidades manuais domésticas, os cursos secundários e superiores era exclusividade masculina.
Nísia Floresta em suas obras defendeu a luta pela educação feminina intelectual. Essa bandeira foi abraçada por muitos, assim como Nísia, que haviam conseguido romper o preconceito e destacar-se de algum modo na sociedade.
Fundada em 1911, a Escola atingiu, nos anos seguintes, o seu apogeu; em contrapartida, nos anos 40, no âmbito da legislação e do currículo, houve um “declínio social” da instituição tendendo a uma preparação apenas didático-pedagógica.
Realizei essa pesquisa baseada nos estudos de Bourdieu, a legislação vigente, bem como documentos, livros, jornais, revistas da época. Para desvelar a identidade que queria produzir-se nas alunas foram entrevistadas normalistas desse período.
O estudo mostrou que o currículo da Escola Normal privilegiava a cultura geral das mulheres das classes favorecidas em detrimento da formação da professora ou de seu engajamento no magistério. Como se sabe, a Escola transmite conhecimentos e valores que são utilizados também no campo do comportamento. O Curso Normal se esforçava em manter, reforçar nessas mulheres um habitus que valorizasse a discrição, a maternidade, o casamento, o recato, etc, que estava em consonância com o habitus já cultivado pela família e de acordo com os comportamentos, com as identidades consideradas adequadas para as mulheres da época.
Finalmente, a Escola Normal secundarizou o objetivo do Curso: formação de professores e priorizou a produção e reprodução de uma cultura geral dirigida a produzir a identidade da mulher culta, casadoira. Essa Escola apresentava uma ruptura entre o trabalho e o trabalho intelectual, pois com o “álibi” da formação de professores, dissimuladamente, valorizava-se a cultura geral das mulheres da elite.

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