terça-feira, 31 de março de 2009

Em 1974...História II

Área Educacional

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Em 1974 foi criando o plano de pós-graduação, visando formar pesquisadores e profissionais de alta qualidade. Porém o projeto educacional está ligado ao plano econômico do Estado, que procurou ajustar a mão de obra com a demanda profissional do país, entretanto a produção não segue um padrão manipulável pelo governo e sim pelos interesses do mercado.
O governo militar tenta ajustar, portanto, o sistema educacional aos interesses capitalistas, reproduzindo nesse sistema as relações de produção.
A educação torna-se fonte de lucro, pois investir nela é sinônimo de melhoria da mão de obra que gera benefícios as empresas nacionais e multinacionais. É, portanto, um investimento que promove o desenvolvimento.
Esse benefício é concedido às empresas privadas também, visto que melhora a qualidade da mão de obra como um todo, conseqüentemente as classes media e alta serão, por conseguinte, agraciadas. Percebemos, então, que essas estruturas de classes são reproduzidas, pois a educação apenas prepara os indivíduos para o trabalho, para que ele seja mais produtivo para a empresa na qual trabalha.
Essa “democratização” faz com que a educação deixe de ser vista como um privilégio, pois até mesmo para as bases da pirâmide ocupacional passou-se a exigir o mínimo de qualificação, a educação não poderia mais ser vista como privilégio.



A REFORMA UNIVERSITÁRIA

A reforma universitária tem dois objetivos básicos: solucionar a crise e formar recursos humanos para manter o desenvolvimento.
Para sanar o primeiro problema foi criada a profissionalização do segundo grau, pois colocava os jovens no mercado de trabalho antes mesmo de pretenderem ingressar em uma universidade.
Outra medida era a liberalização de vagas no ensino superior. Em uma pesquisa realizada pelo MEC em 1972, foi constatado que as faculdades particulares atendem 60% das pessoas que cursam o ensino superior. Este fator se deve a expansão de 300% de matriculas para cursar o ensino superior, de 1968 a 1973, apenas 5 anos.
Em 1968 o número de estudantes do curso superior que estudavam na rede publica era maior do que aqueles que estavam matriculados no ensino particular, em 1973 essa estatística mudou, 61% dos alunos do ensino superior estava na rede particular de ensino.
As universidades particulares se expandiram devido à incapacidade do governo de solucionar a crise universitária, que permitiu a esse setor privado que participasse da “solução”.
O setor privado supria os excedentes rejeitados pelo sistema do vestibular da rede oficial, o ensino oferecido é, na maioria das vezes, noturno, cobram taxas elevadas e ministram cursos de baixa produtividade e qualidade.
Esse ensino particular correspondia às aspirações de ascensão das classes subalternas. Há então um paradoxo: essa rede privada vista anteriormente como barreira para o nível superior é agora a única via de acesso, ela é vista como uma democratização do ensino, quando, na verdade, está comercializando-o já que adapta seus preços aos mais pobres. Isso faz com que o “produto” não seja de mesma categoria que aquele consumido pelas classes privilegiadas formando, portanto, profissionais de menor qualidade. Vê-se então que as chances de trabalho, bons salários e boa qualidade de vida são sistematicamente menores.
Há novamente o esquema de reprodução de classes. Aquilo que o estado não conseguiu solucionar a rede particular comercializou, portanto, tanto o ensino privado, quanto o oficial existem um em função do outro, já que a rede particular também precisa dos rejeitados pelos vestibulares do sistema oficial.

MOBRAL E SUPLETIVO

Mobral foi fundado em 1969 e, em 1973 ele se fundiu ao departamento de ensino supletivo, neste período a clientela entre 15 a 35 anos para o ensino supletivo, chegou a 23,4 milhões de pessoas e foram atendidas somente sete milhões de pessoas, das quais 6,3 estavam matriculadas no mobral, em alfabetização.
O ensino supletivo tem como objetivo, treinar as classes subalternas para o trabalho e transmitir-lhes o instrumento de cultura geral.
Porém a busca por cursos de suplência expandiu-se.
O exame de madureza, aplicado pelo Estado, tem em diferentes unidades graus de dificuldades distintos, com isso, candidatos se apresentam em cidades de outros estados, onde a aprovação seria supostamente mais fácil. Os empresários passaram a confundir o ensino supletivo com turismo, fazendo mil promessas, como transportes gratuitos, para atrair clientela.
O problema é que o ensino supletivo não deve ser uma instituição permanente, o estado deveria, em primeiro lugar, melhorar a estrutura de sua própria rede formal. Pois, se a escola brasileira fosse capaz de absorver todas as crianças em idade escolar evitaria evasão e reprovação, e o ensino do supletivo seria, em longo prazo, dispensado.
As escolas formais desligam do primeiro grau jovens com mais de 16 anos que vão, por sua vez, aos supletivos particulares, novo negocio lucrativo para instituições privadas que atendem a uma demanda inesgotável.
Tanto no primeiro como no segundo grau há uma tendência de substituição pelo supletivo, não se nota, portanto, expectativas de melhoria no ensino formal dos dois níveis.
As conseqüências desse fato são obvias, os candidatos ao vestibular oriundo do ensino supletivo, por terem visto a matéria de maneira mais rápida, concisa e superficial ingressam apenas em instituições particulares e raras vezes alcançarão uma situação de melhor emprego devido à escolarização.
Observamos, portanto, que para que a rede formal permanecesse em seus padrões altamente excludentes há necessidade de existência do supletivo, que alegando democratizar o ensino, apenas mantém a alta seletividade.

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